sexta-feira, 27 de março de 2015

Educação na Coreia


            Em sua opinião, em qual área a Coreia se destaca com excelência mundial? Quem pensa apenas em música e dramaturgia está esquecendo a base na qual foi possível gerar tudo isso: a educação. Ocupando a 5ª posição no rank mundial pelo PISA (Programme for International Student Assessment, ou Programa de Avaliação Internacional de Alunos), o país está muito acima do Brasil, que ocupa um modesto 58º lugar. Qual será o diferencial na educação coreana que faz com que o país se desenvolva tão rapidamente e com tanto sucesso? Para solucionar esta questão, aprenda conosco um pouco mais sobre o sistema de ensino da Coreia do Sul.

Escolas e universidades

            As escolas coreanas são divididas em três estágios: jardim de infância, escola elementar e escola secundária, sendo a escola secundária tendo também suas próprias subdivisões. O tempo médio de aula de um aluno coreano é de oito horas diárias, contra 4,5 horas no Brasil. Isso permite que o aluno aprenda corretamente o conteúdo dado no dia, evitando com que ele acumule dúvidas por falta de estudo. O professor também é extremamente valorizado, sendo considerado um dos cargos mais valorosos do país.
            No jardim de infância, os alunos entram com idades variando entre 3 a 7 anos para aprender a ler e escrever em coreano e um pouco em inglês. Esta grande variação de idades pode parecer confusa de início, mas tudo depende do ritmo da criança. Ela terá o tempo entre o momento de ingresso até o momento fixado para mudar de estágio escolar para aprender o conteúdo ensinado no período.
            A escola elementar é dividida em 6 séries, de acordo com as idades padrões para cada período. É equivalente ao nosso ensino fundamental, mas com o acréscimo de disciplinas como educação moral e música.
            Por fim, a escola secundária se divide em três diferentes “escolas”, sendo elas as escolas média, alta e profissional. A escola média já possui maior cobrança que os estágios anteriores, possuindo 6 aulas durante o dia com intervalos de estudo entre as aulas. Ela funciona como uma versão mais avançada da escola elementar, possuindo as mesmas matérias, mas com o incremento de novas, como hanja (o equivalente coreano aos kanjis japoneses), ética e tecnologia. A escola alta se trata de um período opcional com provas de admissão, mas estima-se que 97% dos alunos concluem essa etapa, e se trata de um estágio ainda mais avançado de estudos. Por fim, a escola profissional consiste em ensinos vocacionais nas mais diversas áreas, como engenharia e agricultura.
            E depois que as crianças e adolescentes concluem o ensino básico, o que elas fazem da vida? Grande parte segue para as universidades, em busca de uma formação ainda mais avançada para alcançar um emprego de destaque. Para se entrar em uma instituição de ensino deste nível o estudante passa por provas semelhantes ao nosso vestibular, onde apenas os melhores passam. 

K-Idols e a universidade


            Assim como a população “normal” da Coreia, alguns k-idols também cursam ou concluíram seus estudos na universidade. O que pode ser encarado como um “plano B” de carreira ou apenas um complemento para melhorar seus conhecimentos musicais, como é o caso de Changmin (TVXQ) que cursou música pós-moderna na Kyung Hee University. Em 2011 ele iniciou sua segunda graduação, desta vez em Cinema e Artes, pela Universidade de Konkuk, e recentemente concluiu seu mestrado e doutorado pela Universidade de Inha. Veja abaixo uma lista de outros k-idols que seguiram um rumo semelhante em suas vidas de estudante:

  •     T.O.P. (BIGBANG) graduado pela Universidade de Dankook com especialização Cinema e teatro;
  •           Yonghwa (CNBLUE) graduado pela Universidade de Kyunghee com especialização em Música Pós-Moderna;
  •       Tablo (Epik High) se formou na Universidade de Stanford. Ele obteve o grau de bacharel em Inglês e Literatura e um mestrado em Escrita Criativa;
  •    Heechul (Super Junior) se formou na segunda turma do departamento de informática e processamento de dados da Universidade de Sangji.

Cobrança excessiva

            Sim, a educação coreana figura entre uma das 5 melhores do mundo e é exemplo para vários outros países. Sim, a taxa de evasão escolar é mínima e a grande maioria dos estudantes conclui a escola secundária.  E sim, algumas universidades coreanas figuram entre as melhores que existem. Mas para que tudo isso ocorra existe um preço.
            A cobrança excessiva nos estudos devido ao estímulo de concorrência entre os alunos e uma cultura rígida que não aceita falhas faz com que muitos estudantes que não conseguem atingir as altas metas impostas pela sociedade cometam suicídio. Segundo dados do governo coreano, 146 estudantes cometeram suicídio em 2010, sendo 53 da escola secundária e 3 da escola elementar.  A pressão para conquistar boas notas é alta e parte de todos, desde a escola até a família.

Estude na Coreia você também

            E você, se interessou pelo modelo de estudo coreano? Quer dar uma bela melhorada no seu currículo estudando do outro lado do planeta (e de quebra conhecer um pouco mais da cultura do país e até assistir alguns shows de kpop)? Pois saiba que isso é possível. Atualmente existem duas formas bem conhecidas para se estudar fora do país. A primeira é você se inscrever num intercâmbio por conta própria e bancar todos os seus gastos fora do país, o que pode sair consideravelmente dispendioso. A segunda é pelo Ciência Sem Fronteiras, o programa do governo de intercâmbio, onde você recebe uma bolsa do governo para bancar seus estudos fora do Brasil. Caso queira se inscrever pelo programa governamental verifique se a universidade em que você está cursando participa do Ciência Sem Fronteiras e se seu curso é válido para o intercâmbio.
            Porém é bom ficar atento a todos os detalhes possíveis para que sua viagem seja bem sucedida e você volte para o país com o conhecimento que foi passado pelos professores da universidade escolhida. Dependendo da modalidade de intercâmbio será necessário ter um nível de proficiência mediana (no mínimo) em coreano, mas também ser fluente em inglês, visto que de 25 a 30% das aulas serão ministradas no idioma americano, mesmo que seja por professores coreanos.
            Para que vocês possam ter uma noção básica de como é o modelo de ensino coreano entrevistamos a querida Amanda Brige sobre como foi o período que ela estudou na Coreia.



     KBE: Primeiro, quanto tempo você passou na Coréia?
     Amanda: 1 mes e 15 dias!

    KBE: Enquanto você estava lá frequentou alguma instituição de ensino ou conheceu alguém que estava estudando?
   Amanda: Sim! Eu fiz um curso de verão na Yonsei University. Fora isso, tive contato com um coreano com quem namorei e também fazia faculdade.

    KBE: Como funcionam os cursos de verão por lá?
  Amanda: Bom, deixa eu ver se lembro bem! Eu escolhi três matérias que foram: introdução a arquitetura, arte contemporânea e introdução a globalização.
    As aulas eram administradas por professores estrangeiros, tive 2 professores estadunidenses e um professor taiwanes. A maior parte dos alunos eram estrangeiros ou decendentes de coreanos, só alguns  eram de fato coreanos, e os professores somente falavam em inglês.
      Não me lembro mais os horarios das aulas mas eram somente de segunda a quinta.

    KBE: Você entrou no curso por algum programa do governo na época ou você teve que pagar tudo?
   Amanda: Na época eu acho que não existia ciências sem fronteiras, não me recordo, eu ainda estava cursando arquitetura e meus pais se disponibilizaram a pagar. Entrei no site da Yonsei University e procurei cursos pra estrangeiros. Fiz tudo sozinha e entrei em contato com a embaixada coreana em Brasilia.

    KBE: Comparando com a nossa realidade brasileira, você acha que o modelo de ensino coreano que  você vivenciou cobra mais do aluno ou é igual a aqui?
    Amanda: Como meus professores eram estrangeiros, eu achei que o nível de cobrança era bastante  justo. Meu ex-namorado, que se chama Lee Jae Choul, entretanto, estudava muito para subir suas  notas e assim acabou conseguindo uma bolsa de estudos que era parcial.
     Lembro uma vez quando eu precisava estudar para uma prova, Jae Choul me aconselhou a ir estudar  em um café que fica aberto 24 horas por dia, e quando fui lá haviam outras pessoas estudando tarde  da noite também.

    KBE: Se você pudesse, faria um curso de mestrado/doutorado ou até parte de uma segunda graduação na Coréia?
    Amanda: Com certeza! Inclusive planejo fazer pós graduação na Coréia do Sul após me formar pois as universidades coreanas são incríveis, soube que a Yonsei é uma das melhores, me apaixonei pelo seu campus imenso, inúmeros espaços pra estudo, e  biblioteca dos sonhos!
    Pretendo concorrer a uma bolsa de estudos na Coréia, sei que deve ser muito concorrido e se não conseguir pensarei em outra maneira de voltar lá!

    KBE: Qual você acha que é o diferencial do ensino coreano?
    Amanda: Eu acho que eles sabem valorizar a educação muito mais do que aqui no Brasil, ainda que as vezes exagerem muito.
      No colégio os alunos ficam na escola em tempo integral, o que seria ideal aqui no Brasil.
     No que diz respeito a universidade, eu acho que lá eles tem mais oportunidades e facilidades do que aqui, como por exemplo poder assistir aulas administradas em inglês.
   
  KBE: E pra terminar, que recado você daria pra alguém que quer estudar lá na Coréia, seja na graduação, pós ou até como intercâmbio na escola?
   Amanda: Eu aconselho essas pessoas que tem vontade de ir estudar na Coreia a jamais desistirem desse sonho, seja pra fazer um curso de graduaçâo ou intercâmbio escolar, valerá muito a pena se esforçar para conseguir vivenciar o modelo coreano de estudo. 
    E o que eu acho mais importante de tudo é, queira ir pelos motivos certos, ou seja, se você somente tem interesse de ir por causa de K-pop, acho melhor não ir.
    A Coreia tem muito a oferecer do que K-pop, as pessoas são extremamente solicitas e farão de tudo para lhe ajudar se você demonstrar ter interesse em aprender sobre a sua cultura e especialmente seu idioma.

Fontes:

Escrito por: Junot Freire

Pesquisa de dados por: Joannes Garcia, Julieth Souza, Junot Freire
Postagem mais recente Postagem mais antiga Página inicial