Em
sua opinião, em qual área a Coreia se destaca com excelência mundial? Quem
pensa apenas em música e dramaturgia está esquecendo a base na qual foi
possível gerar tudo isso: a educação. Ocupando a 5ª posição no rank mundial
pelo PISA (Programme for International Student Assessment, ou Programa de
Avaliação Internacional de Alunos), o país está muito acima do Brasil, que
ocupa um modesto 58º lugar. Qual será o diferencial na educação coreana que faz
com que o país se desenvolva tão rapidamente e com tanto sucesso? Para
solucionar esta questão, aprenda conosco um pouco mais sobre o sistema de
ensino da Coreia do Sul.
Escolas e
universidades
As escolas
coreanas são divididas em três estágios: jardim de infância, escola elementar e
escola secundária, sendo a escola secundária tendo também suas próprias
subdivisões. O tempo médio de aula de um aluno coreano é de oito horas diárias,
contra 4,5 horas no Brasil. Isso permite que o aluno aprenda corretamente o
conteúdo dado no dia, evitando com que ele acumule dúvidas por falta de estudo.
O professor também é extremamente valorizado, sendo considerado um dos cargos
mais valorosos do país.
No
jardim de infância, os alunos entram com idades variando entre 3 a 7 anos para
aprender a ler e escrever em coreano e um pouco em inglês. Esta grande variação
de idades pode parecer confusa de início, mas tudo depende do ritmo da criança.
Ela terá o tempo entre o momento de ingresso até o momento fixado para mudar de
estágio escolar para aprender o conteúdo ensinado no período.
A
escola elementar é dividida em 6 séries, de acordo com as idades padrões para
cada período. É equivalente ao nosso ensino fundamental, mas com o acréscimo de
disciplinas como educação moral e música.
Por
fim, a escola secundária se divide em três diferentes “escolas”, sendo elas as
escolas média, alta e profissional. A escola média já possui maior cobrança que
os estágios anteriores, possuindo 6 aulas durante o dia com intervalos de
estudo entre as aulas. Ela funciona como uma versão mais avançada da escola
elementar, possuindo as mesmas matérias, mas com o incremento de novas, como
hanja (o equivalente coreano aos kanjis japoneses), ética e tecnologia. A
escola alta se trata de um período opcional com provas de admissão, mas
estima-se que 97% dos alunos concluem essa etapa, e se trata de um estágio
ainda mais avançado de estudos. Por fim, a escola profissional consiste em
ensinos vocacionais nas mais diversas áreas, como engenharia e agricultura.
E
depois que as crianças e adolescentes concluem o ensino básico, o que elas
fazem da vida? Grande parte segue para as universidades, em busca de uma
formação ainda mais avançada para alcançar um emprego de destaque. Para se
entrar em uma instituição de ensino deste nível o estudante passa por provas semelhantes
ao nosso vestibular, onde apenas os melhores passam.
K-Idols e a
universidade
Assim como a população “normal” da
Coreia, alguns k-idols também cursam ou concluíram seus estudos na
universidade. O que pode ser encarado como um “plano B” de carreira ou apenas
um complemento para melhorar seus conhecimentos musicais, como é o caso de
Changmin (TVXQ) que cursou música pós-moderna na Kyung Hee University. Em 2011
ele iniciou sua segunda graduação, desta vez em Cinema e Artes, pela
Universidade de Konkuk, e recentemente concluiu seu mestrado e doutorado pela
Universidade de Inha. Veja abaixo uma lista de outros k-idols que seguiram um
rumo semelhante em suas vidas de estudante:
- T.O.P. (BIGBANG) graduado pela Universidade de Dankook com especialização Cinema e teatro;
- Yonghwa (CNBLUE) graduado pela Universidade de Kyunghee com especialização em Música Pós-Moderna;
- Tablo (Epik High) se formou na Universidade de Stanford. Ele obteve o grau de bacharel em Inglês e Literatura e um mestrado em Escrita Criativa;
- Heechul (Super Junior) se formou na segunda turma do departamento de informática e processamento de dados da Universidade de Sangji.
Cobrança
excessiva
Sim, a
educação coreana figura entre uma das 5 melhores do mundo e é exemplo para
vários outros países. Sim, a taxa de evasão escolar é mínima e a grande maioria
dos estudantes conclui a escola secundária.
E sim, algumas universidades coreanas figuram entre as melhores que
existem. Mas para que tudo isso ocorra existe um preço.
A
cobrança excessiva nos estudos devido ao estímulo de concorrência entre os
alunos e uma cultura rígida que não aceita falhas faz com que muitos estudantes
que não conseguem atingir as altas metas impostas pela sociedade cometam
suicídio. Segundo dados do governo coreano, 146 estudantes cometeram suicídio
em 2010, sendo 53 da escola secundária e 3 da escola elementar. A pressão para conquistar boas notas é alta e
parte de todos, desde a escola até a família.
Estude na
Coreia você também
E
você, se interessou pelo modelo de estudo coreano? Quer dar uma bela melhorada
no seu currículo estudando do outro lado do planeta (e de quebra conhecer um
pouco mais da cultura do país e até assistir alguns shows de kpop)? Pois saiba
que isso é possível. Atualmente existem duas formas bem conhecidas para se
estudar fora do país. A primeira é você se inscrever num intercâmbio por conta
própria e bancar todos os seus gastos fora do país, o que pode sair
consideravelmente dispendioso. A segunda é pelo Ciência Sem Fronteiras, o
programa do governo de intercâmbio, onde você recebe uma bolsa do governo para
bancar seus estudos fora do Brasil. Caso queira se inscrever pelo programa
governamental verifique se a universidade em que você está cursando participa
do Ciência Sem Fronteiras e se seu curso é válido para o intercâmbio.
Porém
é bom ficar atento a todos os detalhes possíveis para que sua viagem seja bem
sucedida e você volte para o país com o conhecimento que foi passado pelos
professores da universidade escolhida. Dependendo da modalidade de intercâmbio
será necessário ter um nível de proficiência mediana (no mínimo) em coreano,
mas também ser fluente em inglês, visto que de 25 a 30% das aulas serão
ministradas no idioma americano, mesmo que seja por professores coreanos.
Para
que vocês possam ter uma noção básica de como é o modelo de ensino coreano
entrevistamos a querida Amanda Brige sobre como foi o período que ela estudou
na Coreia.
KBE: Primeiro,
quanto tempo você passou na Coréia?
Amanda: 1 mes e
15 dias!
KBE: Enquanto
você estava lá frequentou alguma instituição de ensino ou conheceu alguém que
estava estudando?
Amanda: Sim! Eu
fiz um curso de verão na Yonsei University. Fora isso, tive contato com um
coreano com quem namorei e também fazia faculdade.
KBE: Como
funcionam os cursos de verão por lá?
Amanda: Bom,
deixa eu ver se lembro bem! Eu escolhi três matérias que foram: introdução a
arquitetura, arte contemporânea e introdução a globalização.
As aulas eram administradas por professores estrangeiros,
tive 2 professores estadunidenses e um professor taiwanes. A maior parte dos
alunos eram estrangeiros ou decendentes de coreanos, só alguns eram de fato
coreanos, e os professores somente falavam em inglês.
Não me lembro mais os horarios das aulas mas eram somente de
segunda a quinta.
KBE: Você entrou
no curso por algum programa do governo na época ou você teve que pagar tudo?
Amanda: Na época
eu acho que não existia ciências sem fronteiras, não me recordo, eu ainda
estava cursando arquitetura e meus pais se disponibilizaram a pagar. Entrei no
site da Yonsei University e procurei cursos pra estrangeiros. Fiz tudo sozinha
e entrei em contato com a embaixada coreana em Brasilia.
KBE: Comparando
com a nossa realidade brasileira, você acha que o modelo de ensino coreano que você vivenciou cobra mais do aluno ou é igual a aqui?
Amanda: Como meus
professores eram estrangeiros, eu achei que o nível de cobrança era bastante justo. Meu ex-namorado, que se chama Lee Jae Choul, entretanto, estudava muito
para subir suas notas e assim acabou conseguindo uma bolsa de estudos que era
parcial.
Lembro uma vez quando eu precisava estudar para uma prova,
Jae Choul me aconselhou a ir estudar em um café que fica aberto 24 horas por
dia, e quando fui lá haviam outras pessoas estudando tarde da noite também.
KBE: Se você
pudesse, faria um curso de mestrado/doutorado ou até parte de uma segunda
graduação na Coréia?
Amanda: Com
certeza! Inclusive planejo fazer pós graduação na Coréia do Sul após me formar
pois as universidades coreanas são incríveis, soube que a Yonsei é uma das
melhores, me apaixonei pelo seu campus imenso, inúmeros espaços pra estudo,
e biblioteca dos sonhos!
Pretendo concorrer a uma bolsa de estudos na Coréia, sei que
deve ser muito concorrido e se não conseguir pensarei em outra maneira de
voltar lá!
KBE: Qual você
acha que é o diferencial do ensino coreano?
Amanda: Eu acho
que eles sabem valorizar a educação muito mais do que aqui no Brasil, ainda que
as vezes exagerem muito.
No colégio os alunos ficam na escola em tempo integral, o
que seria ideal aqui no Brasil.
No que diz respeito a universidade, eu acho que lá eles tem
mais oportunidades e facilidades do que aqui, como por exemplo poder assistir
aulas administradas em inglês.
KBE: E pra
terminar, que recado você daria pra alguém que quer estudar lá na Coréia, seja
na graduação, pós ou até como intercâmbio na escola?
Amanda: Eu
aconselho essas pessoas que tem vontade de ir estudar na Coreia a jamais
desistirem desse sonho, seja pra fazer um curso de graduaçâo ou intercâmbio
escolar, valerá muito a pena se esforçar para conseguir vivenciar o modelo
coreano de estudo.
E o que eu acho mais importante de tudo é, queira ir pelos
motivos certos, ou seja, se você somente tem interesse de ir por causa de
K-pop, acho melhor não ir.
A Coreia tem muito a oferecer do que K-pop, as pessoas são
extremamente solicitas e farão de tudo para lhe ajudar se você demonstrar ter
interesse em aprender sobre a sua cultura e especialmente seu idioma.
Fontes:
Escrito por: Junot Freire
Pesquisa de dados por: Joannes Garcia, Julieth Souza, Junot
Freire