sexta-feira, 13 de março de 2015

Homossexualidade na Coreia


“Tem certeza que ele não é? Olhe a forma como eles agem no palco!”. Qual kpopper nunca ouviu esta frase ao apresentar seu grupo preferido a alguém que nunca ouviu este gênero musical? Não apenas as pessoas fora da comunidade kpopper pensam isso, mas é quase um consenso comum de cada apreciador deste gênero que grande parte dos artistas coreanos são homo ou bissexuais.
Mas qual o motivo de nenhum deles ter “saído do armário”? Nos palcos dos grandes shows pode parecer que a Coreia é um país igualitário, onde todos os seus habitantes têm mente aberta e acham a homossexualidade algo normal, mas na vida real a história é bem diferente.

A Coreia ainda é um país muito conservador (pode-se dizer inclusive “mente fechada”) em relação à pluralidade de identidade de gêneros e sexualidade que existe na raça humana. O comportamento heteronormativo é seguido e reproduzido massivamente, sem possuir aberturas para outros padrões comportamentais que a sociedade possui. Grande parte da sociedade coreana (principalmente os mais velhos e conservadores) considera a homossexualidade como sendo um desvio comportamental, ou uma doença mental trazida pelo contato com o ocidente.

            Em entrevista exclusiva para a KBE, Mariana (nome fictício para proteção de identidade), que morou durante um certo período na Coreia do Sul, contou a nós um pouco sobre como o povo coreano enxerga a comunidade LGBT. “Lá eles não falam que são gays, pois não é bem visto pela sociedade. Os coreanos não querem ter amigos gays. Inclusive, meus amigos coreanos já disseram que não gostariam de ter amigos gays.”, comenta ela. “Eles não sabem identificar homossexuais, justamente porque não ‘há’. Eu acho que devem ter vários, mas todos ‘encubados’.”.

Inclusive os espaços frequentados massivamente pelo público LGBT são projetados para manter o anonimato dos frequentadores o máximo possível. “Eu fui pra uma boate gay lá, já que meu amigo gay queria que eu fosse com ele. Super escondida, demorei horas para achar. A boate era toda escura justamente pra você não reconhecer ninguém. Muito estranho”, diz Mariana sobre esses espaços que existem na Coreia.


É bom salientar, entretanto, que ao contrário de países fundamentalistas religiosos, a homossexualidade não é crime na Coreia e a homofobia é punida (determinado em lei sobre discriminações), mas o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo não é devidamente regulamentado. Também é fato que gays assumidos possuem mais dificuldades em encontrar trabalho, ou podem ser demitidos de seus empregos, como ocorreu no ano de 2000, onde um célebre apresentador de televisão da época perdeu seu emprego ao assumir abertamente sua sexualidade. A pressão é muito grande, o que pode fazer com que alguns gays cometam suicídio ou entrem em depressão severa, como é o caso de três rapazes gays amigos de um dos contemporâneos de Mariana, onde dois se mataram e um está em depressão. 


LGBT e a mídia coreana

Enquanto a população mais conservadora atira suas pedras fundamentalistas nas minorias coreanas, alguns artistas (gays ou não) tentam fazer o possível para ajudar a causa e fazer com que as pessoas entendam que a pluralidade sexual não é um distúrbio comportamental, e sim uma característica inerente à raça humana.
Entre eles, o coreano Lee Hyuk Sang fez um documentário sobre a vida de quatro homossexuais na Coreia, chamado “Miracle on Jongno Street”, com o objetivo de instruir mais a população. Você pode assistir ao documentário através do link disponibilizado nas nossas fontes.
Alguns k-idols também tem se mostrado abertos em ajudar a causa LGBT, e até acabam sendo criticados duramente por causa disso. Entre eles, citamos Jo Kwon (2AM) e Jonghyun (SHINee).
Jo Kwon protagonizou o musical Priscilla, onde ele encara o papel de uma Drag Queen. Porém acabou sendo duramente criticado nas redes sociais e enviou a seguinte mensagem como resposta:

(Tradução: “OK. Priscilla é um musical sensacional e como todos vocês sabem eu estou interpretando o papel de um homem gay. Me entristece ver a ignorância em alguns dos comentários que pessoas de mente fechada deixaram na minha página pessoal, mas eu estou muito comprometido e amando este papel e orgulhoso por ser parte deste incrível projeto! Vejo vocês no show!!”)

Também temos o caso de Jonghyun, em que ele trocou sua foto de perfil do Twitter em suporte a uma estudante transexual e bissexual. Foi duramente atacado pela comunidade mais conservadora. Após descobrir a identidade da estudante, Jonghyun enviou a seguinte mensagem para ela, onde ele tenta “dar uma força” para a condição dela:
         “I am sending these messages for fear of the damage or attention caused to you by my tweet that you may not want. I support you. As an entertainer, as a minority in a different definition who deals with the public, I feel a great sense of loss in this world where we don’t admit differences. Of course, this can’t be comparable to your feeling. I support you shouting squarely that difference isn’t wrong. I don’t think you are a person who needs other’s consolation or concern. You are as strong as much. I wish you stay healthy, and have a warm end of the year.”

(Tradução: "Eu estou enviando essas mensagens por medo do dano ou atenção causada para você pelo meu tweet que você possa não estar esperando. Eu te apoio. Como um artista, como uma minoria em uma definição diferente com o qual lida com o público, eu sinto um grande sentimento de perda neste mundo onde nós não admitimos diferenças. Claro, isso não pode ser comparado com os seus sentimentos. Eu apoio você gritando que diferenças não são algo errado. Eu não acho que você seja uma pessoa que precise de consolo ou preocupação dos outros. Você é muito forte. Desejo que você continue saudável, e tenha um tenha um aconchegante fim de ano.")

Imagem compartilhada por Jonghyun, você pode ler a versão traduzida para o inglês nos links das nossas fontes.

Tudo isso nos mostra que não, a Coreia não é aquele conto de fadas arco-íris que muitos kpoppers acreditavam. O preconceito lá é forte, e é difícil ser extinguido rapidamente. Mas esperamos que com instrução adequada e um pouco de trabalho duro algumas mentes se abram para aceitar novas ideias, novos padrões de vida e tudo que a vida tem a oferecer. É preciso mostrar que o mundo não é tão cinza como se pensa, mas sim uma imensidão de cores diversas convivendo em harmonia.


Fontes:


Texto redigido por: Junot Freire
Pesquisa de dados por: Alvaro Loki e Junot Freire

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