“Tem
certeza que ele não é? Olhe a forma como eles agem no palco!”. Qual kpopper
nunca ouviu esta frase ao apresentar seu grupo preferido a alguém que nunca
ouviu este gênero musical? Não apenas as pessoas fora da comunidade kpopper
pensam isso, mas é quase um consenso comum de cada apreciador deste gênero que
grande parte dos artistas coreanos são homo ou bissexuais.
Mas qual o
motivo de nenhum deles ter “saído do armário”? Nos palcos dos grandes shows
pode parecer que a Coreia é um país igualitário, onde todos os seus habitantes
têm mente aberta e acham a homossexualidade algo normal, mas na vida real a
história é bem diferente.
A Coreia
ainda é um país muito conservador (pode-se dizer inclusive “mente fechada”) em
relação à pluralidade de identidade de gêneros e sexualidade que existe na raça
humana. O comportamento heteronormativo é seguido e reproduzido massivamente,
sem possuir aberturas para outros padrões comportamentais que a sociedade
possui. Grande parte da sociedade coreana (principalmente os mais velhos e
conservadores) considera a homossexualidade como sendo um desvio
comportamental, ou uma doença mental trazida pelo contato com o ocidente.
Em entrevista exclusiva para a KBE,
Mariana (nome fictício para proteção de identidade), que morou durante um certo
período na Coreia do Sul, contou a nós um pouco sobre como o povo coreano
enxerga a comunidade LGBT. “Lá eles não falam que são gays, pois não é bem
visto pela sociedade. Os coreanos não querem ter amigos gays. Inclusive, meus
amigos coreanos já disseram que não gostariam de ter amigos gays.”, comenta
ela. “Eles não sabem identificar homossexuais, justamente porque não ‘há’. Eu
acho que devem ter vários, mas todos ‘encubados’.”.
Inclusive
os espaços frequentados massivamente pelo público LGBT são projetados para
manter o anonimato dos frequentadores o máximo possível. “Eu fui pra uma boate
gay lá, já que meu amigo gay queria que eu fosse com ele. Super escondida,
demorei horas para achar. A boate era toda escura justamente pra você não
reconhecer ninguém. Muito estranho”, diz Mariana sobre esses espaços que
existem na Coreia.
É bom
salientar, entretanto, que ao contrário de países fundamentalistas religiosos,
a homossexualidade não é crime na Coreia e a homofobia é punida (determinado em
lei sobre discriminações), mas o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo
não é devidamente regulamentado. Também é fato que gays assumidos possuem mais
dificuldades em encontrar trabalho, ou podem ser demitidos de seus empregos,
como ocorreu no ano de 2000, onde um célebre apresentador de televisão da época
perdeu seu emprego ao assumir abertamente sua sexualidade. A pressão é muito
grande, o que pode fazer com que alguns gays cometam suicídio ou entrem em
depressão severa, como é o caso de três rapazes gays amigos de um dos
contemporâneos de Mariana, onde dois se mataram e um está em depressão.
LGBT e a
mídia coreana
Enquanto a
população mais conservadora atira suas pedras fundamentalistas nas minorias
coreanas, alguns artistas (gays ou não) tentam fazer o possível para ajudar a
causa e fazer com que as pessoas entendam que a pluralidade sexual não é um
distúrbio comportamental, e sim uma característica inerente à raça humana.
Entre eles,
o coreano Lee Hyuk Sang fez um documentário sobre a vida de quatro homossexuais
na Coreia, chamado “Miracle on Jongno Street”, com o objetivo de instruir mais
a população. Você pode assistir ao documentário através do link disponibilizado
nas nossas fontes.
Alguns
k-idols também tem se mostrado abertos em ajudar a causa LGBT, e até acabam
sendo criticados duramente por causa disso. Entre eles, citamos Jo Kwon (2AM) e
Jonghyun (SHINee).
Jo Kwon
protagonizou o musical Priscilla, onde ele encara o papel de uma Drag Queen.
Porém acabou sendo duramente criticado nas redes sociais e enviou a seguinte
mensagem como resposta:
(Tradução:
“OK. Priscilla é um musical sensacional e como todos vocês sabem eu estou
interpretando o papel de um homem gay. Me entristece ver a ignorância em alguns
dos comentários que pessoas de mente fechada deixaram na minha página pessoal,
mas eu estou muito comprometido e amando este papel e orgulhoso por ser parte
deste incrível projeto! Vejo vocês no show!!”)
Também
temos o caso de Jonghyun, em que ele trocou sua foto de perfil do Twitter em
suporte a uma estudante transexual e bissexual. Foi duramente atacado pela
comunidade mais conservadora. Após descobrir a identidade da estudante,
Jonghyun enviou a seguinte mensagem para ela, onde ele tenta “dar uma força”
para a condição dela:
“I am sending these messages for
fear of the damage or attention caused to you by my tweet that you may not
want. I support you. As an entertainer, as a minority in a different definition
who deals with the public, I feel a great sense of loss in this world where we
don’t admit differences. Of course, this can’t be comparable to your feeling. I
support you shouting squarely that difference isn’t wrong. I don’t think you
are a person who needs other’s consolation or concern. You are as strong as
much. I wish you stay healthy, and have a warm end of the year.”
(Tradução: "Eu estou enviando essas mensagens por medo do dano ou atenção causada para você pelo meu tweet que você possa não estar esperando. Eu te apoio. Como um artista, como uma minoria em uma definição diferente com o qual lida com o público, eu sinto um grande sentimento de perda neste mundo onde nós não admitimos diferenças. Claro, isso não pode ser comparado com os seus sentimentos. Eu apoio você gritando que diferenças não são algo errado. Eu não acho que você seja uma pessoa que precise de consolo ou preocupação dos outros. Você é muito forte. Desejo que você continue saudável, e tenha um tenha um aconchegante fim de ano.")
(Tradução: "Eu estou enviando essas mensagens por medo do dano ou atenção causada para você pelo meu tweet que você possa não estar esperando. Eu te apoio. Como um artista, como uma minoria em uma definição diferente com o qual lida com o público, eu sinto um grande sentimento de perda neste mundo onde nós não admitimos diferenças. Claro, isso não pode ser comparado com os seus sentimentos. Eu apoio você gritando que diferenças não são algo errado. Eu não acho que você seja uma pessoa que precise de consolo ou preocupação dos outros. Você é muito forte. Desejo que você continue saudável, e tenha um tenha um aconchegante fim de ano.")
Fontes:
- http://www.soompi.com/2013/12/15/shinees-jonghyun-changes-twitter-profile-image-in-support-of-transgender-student/
- http://www.dramafever.com/pt/news/shinees-jong-hyun-under-attack-for-his-support-of-the-sexual-minority-/
- http://omonatheydidnt.livejournal.com/12317545.html (Tradução da imagem)
- http://www.vitorrent.cc/search/miracle+on+jongno+street+eng+sub (Documentário com legendas em inglês)
- https://coisasdacoreia.wordpress.com/2012/07/11/conseguira-a-coreia-do-sul-alguma-vez-aceitar-os-homossexuais/
- http://dezanove.pt/coreia-do-sul-a-caminho-da-conquista-613653
Texto redigido por: Junot Freire
Pesquisa de dados por: Alvaro Loki e Junot Freire
Pesquisa de dados por: Alvaro Loki e Junot Freire